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Breves

Violência nas maternidades

03
Dez
2013

Na edição nº 264 do Jornal @ Verdade, foi publicada uma reportagem da WLSA Moçambique sobre violência na maternidade. Este tema mereceu a atenção, pelo elevado número de queixas de mulheres que têm o seu parto nas unidades sanitárias em Maputo.

 

Violência Obstétrica:

Maus tratos e crueldade nas maternidades

A Bíblia disse: “Tu, mulher, parirás com dor”. Em Moçambique, além das dores próprias do parto, muitas parturientes sofrem violência obstétrica, isto é, maus tratos da parte das enfermeiras nas maternidades.

Histórias de berros, gritos, proibição de usar telemóvel e até palmadas, são frequentes.

“Uma enfermeira bateu numa parturiente em frente de todas nós. Esquece-se que no momento do parto a mulher fica um pouco fora de si. E nada justifica bater”, disse Joaneta Cossa, que deu à luz pela primeira vez no Centro de Saúde 1 de Junho, em Maputo, bairro Ferroviário.

Cossa conta que a enfermeira e a assistente ficavam no gabinete a escutar música e conversar. Quando chegou a hora do parto, ela gritou mas não ouviram. Acabou tendo o parto com a ajuda de outras mulheres experientes.

Mas nem todas as parturientes têm a mesma experiência negativa. “Tive sorte, encontrei uma boa enfermeira”, disse Lina Delfino, também parturiente do Centro de Saúde 1 de Junho. “Mas tinha medo, pois já ouvira falar dos maus tratos naquela maternidade”.

Na experiência de Célia Mabanga, parturiente do Hospital Geral de Mavalane, em 2012, as enfermeiras tratavam mal, até um certo ponto: “Basta tirar dinheiro, tratam-te bem”.

Mabanga acrescenta: “Se és pobre e não tens dinheiro e não és familiar, automaticamente estás condenada ao mau atendimento. Elas não têm amor à profissão”.

Más condições higiénicas

As nossas entrevistadas descrevem o Centro 1 de Junho como uma maternidade com condições higiénicas péssimas, chão sempre húmido, casas de banho mal cuidadas e mal cheirosas, pensos espalhados pelo chão, água a gotejar nas torneiras, redes mosquiteiras sujas.

“O trabalho do parto é sujo, no entanto, devia haver mais empenho em manter o local em boas condições. As utentes têm direito de ter filho num sítio com condições dignas”, disse Cossa.

O problema das redes sujas também é reportado no Hospital Geral de Mavalane. “Aquelas redes são antigas e não cuidam bem delas, por isso as pacientes não as usam”, disse Mabanga.

Foto: Mercedes Sayagues

Tentativa de mudança

O Ministério de Saúde (MISAU) reconhece o problema e está tentando melhorar o atendimento através da Iniciativa Maternidade Modelo, que tenta mudar o comportamento dos profissionais de saúde e dar uma assistência confortável aos utentes.

A iniciativa está a funcionar desde 2011, nos hospitais provinciais, centrais, gerais e nalguns distritais.

Agora é permitido à parturiente trazer um acompanhante, escolher a posição para nascer, e caminhar na maternidade. No entanto, nem sempre tudo se passa conforme se decide.

“Quando começava a andar, a enfermeira gritava e mandava-me voltar para a sala”, lembra Cossa, que teve um parto em 2012. “Em nenhum momento me disseram que podia trazer alguém para acompanhar o parto, e muito menos escolher a posição, porque a enfermeira nem estava no momento em que o bebé saiu”.

No entanto, as queixas continuam. “O atendimento não mudou. Ainda há parteiras que tratam mal as pacientes, até batem, cobram dinheiro, como acontecia nas maternidades há 15 anos, quando tive a minha primeira filha em Mavalane”, disse Adélia Magaia, parturiente do hospital de Mavalane, em 2013.

“As enfermeiras fazem de propósito, principalmente quando somos nós adultas, dizem deixem lá, essa aí já sabe como se faz, não é nova aqui. E eu tive o parto sozinha. Foi mais complicado que o parto de 2000, do meu segundo filho”, disse Rosa Mafela, parturiente do Centro 1 de Junho, em Agosto de 2013.

“No sector da saúde a pessoa faz a formação, logo tem colocação, às vezes não tem vocação, e aí começam os problemas dos maus tratos”, disse Ana de Lurdes Cala, chefe do Departamento Central para a Área de Qualidade e Humanização, do MISAU.

Para Mabanga, a iniciativa da humanização é boa, mas deve haver mais vigilância e controlo para assegurar que as enfermeiras atendem as pacientes com respeito. “Elas esquecem que as pacientes são pessoas, embora elas não gostassem nem um pouco de serem mal tratadas”, disse.

Falta pessoal

Outro problema é a sobrecarga de trabalho. O Centro 1 de Junho só tem quatro enfermeiras na maternidade, uma em cada turno, para atender cerca de 10 partos por dia.

“Precisamos de mais enfermeiros, já submetemos o pedido à Direcção de Saúde da Cidade e à Direcção Distrital, mas a resposta é de que há poucos enfermeiros», disse a enfermeira Mara André Nhamuchue, responsável da maternidade.

Em Mavalane é normal um cenário de enchente na sala de partos, camas lotadas, duas mulheres a partilharem a mesma cama e colchões nos corredores.

Há maternidades com apenas duas enfermeiras, como é o caso do Centro de Saúde em Matendene. “Essa é a nossa realidade”, disse Cala.

Aqui, estima-se que uma enfermeira atenda cerca de 25 partos por turno. “É muito trabalho”, observa Cala. “Mas mesmo com isso, não quer dizer que ela deva ser malcriada e despachar as pacientes”.

 

“A moça teve o parto sozinha e o bebé morreu”

Depoimento de uma testemunha no Hospital Central de Maputo

Eu estava de baixa na maternidade do Hospital Central de Maputo. Ao meu lado estava uma moça dos seus 30 anos, grávida de oito meses e que corria risco de perder o bebé. Começou a sentir contracções de parto. Levantei para ajudá-la, fui chamar a enfermeira.

«Diz a ela para não fazer força», respondeu a enfermeira, que estava sentada a conversar.

A moça, já com dores fortes, fez força e o bebé começou a sair pelas pernas. Voltei a chamar a enfermeira. Ela andava devagar, numa boa, como se nada estivesse acontecendo. Quando chegou, começou-se a zangar e a falar mal para a moça.

«O que você está a fazer? Eu não disse para você não fazer força?», disse. Foi aí que começaram a ajudá-la, puxaram o bebé, mas este saiu morto.

Não sei se aquelas enfermeiras agiram daquela maneira porque queriam ser pagas. Na sala éramos quatro mulheres, mas uma é que estava a receber tratamento especial, sempre atenciosas com ela. Para as outras, só gritos e berros.

Humanizar como solução

Desde 2011, o MISAU promove a humanização na prestação de cuidados de saúde, para acabar com os maus tratos, cobranças ilícitas e longo tempo de espera, as queixas que mais se registavam.

“A humanização está para resolver o problema do sistema nacional de saúde, porque sentimos que houve uma ruptura de valores”, explica Ana de Lurdes Cala, chefe do Departamento Central para a Área de Qualidade e Humanização, do MISAU. “As queixas já estão a diminuir”.

Cala observa que quem trabalha na maternidade deve ser uma pessoa que gosta de fazer o que faz. Quando não é assim, surgem os maus tratos e a falta de humanização.

O MISAU está a criar comités de qualidade e humanização, integrados pelos líderes religiosos e comunitários locais, que servem de “olho e ouvido” para levar os problemas do povo para as unidades sanitárias e vice-versa. Já foi criado o comité nacional, os de nível provincial e distrital (ainda não cobriram todos os distritos) e 198 nas unidades sanitárias.

Foto: Mercedes Sayagues

O que é violência obstétrica?

Violência obstétrica é uma série de tratamentos desrespeitosos, que vão desde piadinhas e comentários maldosos e preconceituosos, ao completo desrespeito e intervenções médicas feitas contra a vontade da mãe durante o parto.

Estes são alguns exemplos de actos de violência obstétrica:

  • Tratar com agressividade, desprezo, ou atribuir nomes
  • Submeter a mulher a um tratamento humilhante, como deixar as portas abertas enquanto estiver na posição do parto
  • Impedir a parturiente de se comunicar ou circular
  • Tomar procedimentos sem antes explicar a razão dos mesmos
  • Subir na barriga para expulsar o bebé
  • Deixar pessoas estranhas entrarem
  • Ameaçar, chantagear ou assediar

A humanização na saúde

Inclui:

  • Rapidez no acesso aos cuidados de saúde
  • Garantia de cuidados de qualidade
  • Participação nas decisões e respeito pelas preferências da parturiente
  • Informação clara, compreensível e apoio à autonomia
  • Apoio emocional, empatia e respeito
  • Envolvimento de familiares e cuidadores
  • Continuidade de cuidados

Os riscos de ser mãe em Moçambique

Em Moçambique, 14 por cento das mortes de mulheres em idade reprodutiva são atribuídas a causa materna. Isto é, resultam de complicações da gravidez, do parto e no período de 28 dias imediatamente a seguir.

Nas mulheres mais jovens, com idades entre os 15 e os 19 anos, vemos que uma em cada quatro mortes (24%) e atribuída a causa materna. Este alto número resulta de várias causas como:

  • Hemorragias uterinas
  • Malária
  • HIV/SIDA
  • Hipertensão induzida pela gravidez
  • Sépsis puerperal (infecção contraída durante o parto e no período após parto)
  • Aborto inseguro

No entanto, com adequados cuidados de saúde, estes problemas poderiam ser detectados atempadamente, de modo a prevenir as mortes maternas.

Mas o acesso das mulheres saúde não é fácil. Nos inquéritos, as mulheres apontam como dificuldades obter permissão de ir ao tratamento, obter dinheiro para o tratamento, a distância até à unidade sanitária e a dificuldade de encontrar uma companhia para ir a unidade sanitária.

Quase dois terços das mulheres (62 por cento) declaram que tiveram pelo menos um problema no acesso aos cuidados de saúde.

A extensão da rede sanitária ainda não é suficiente para cobrir todo o país, pelo que muitas mulheres têm de andar grandes distâncias para receber cuidados de saúde. As condições das próprias unidades sanitárias não são muitas vezes adequadas: falta pessoal, falta equipamento, faltam medicamentos e falta boa disposição, como vimos no artigo principal sobre as maternidades.

Fonte: IDS 2011, INE

Vox populi

Joana Ilda Meleque, 21 anos, estudante

O atendimento não é muito bom, excepto dando dinheiro à enfermeira. Se calhar aquela enfermeira está cansada ou não tem bom salário e acaba descarregando nas pacientes.

Mércia Cristina Fernando, 29 anos, estudante e professora, mãe de uma filha

Quando tive o parto, fui bem atendida. Mas há mulheres que têm o parto sozinhas, as enfermeiras não ajudam. Há também pacientes que não respeitam os enfermeiros.

Luís da Costa, 50 anos, antigo combatente, pai de dois filhos

Nas duas vezes que a minha mulher teve o parto não teve motivo de queixa. Embora existam algumas enfermeiras que não têm paciência e acabam ralhando para as pacientes.

Borges Avelino, 21 anos, estudante

Não tenho ouvido boa coisa das maternidades. Dizem que o atendimento é diferenciado, acho que as capacidades financeiras é que estão por detrás.

Angélica Xavier, 20 anos, estudante

A minha irmã foi à maternidade e não foi bem atendida, porque não tinha conhecidos.

Sheila Nhampule, 27 anos, estudante

Pelo que tenho ouvido nas conversas, o atendimento não é de qualidade.

Texto: Nélcia Gabriel Tovela

Fotos: Mercedes Sayagues

 

Um comentário a “Violência nas maternidades”

  1. Priscilla Zibia diz:

    Muito interessante. Sou formada em Genero, Mulher e Sociedade, pela UEM, quando estudante ferequentei durante muito tempo a Vossa biblioteca. tenho muita admiracao pelos vossos trabalhos, manuais e pesquisas. Esta serviu de mais um apreendizado para mim, primeiro porque ainda nao tenho filho e segundo porque pretendo ter ainda este ano mas, porque de facto nao tenho ouvido boas noticias sobre o tratamento nas maternidades, confesso que fiquei com “frio na barriga”, mas vou avante mesmo assim. Cpts.

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